segunda-feira, 23 de março de 2015


VIA-SACRA VIVA NAS RUAS DE SINES


        «Crescem nas asperezas do caminho
             Pequenas flores brancas de esperança;
Não podem os espinhos afogá-las,
           Pois foi o amor quem as chamou à vida»




Na primeira noite da primavera, uma noite calma, sem frio nem vento, coisa rara aqui em Sines, o Castelo, transformado no Palácio do Governador Pôncio Pilatos, marcou, pelas 21h00, o início da Via-Sacra viva que realizámos pelas ruas da nossa Cidade. As pessoas eram em número considerável, não sendo uma multidão que ninguém podia contar, todavia, dispuseram do seu tempo e do seu coração, algumas em família, para percorrer com Jesus os passos da sua via dolorosa. 


As catorze estações da Via-Sacra, devidamente decoradas pelos diferentes grupos da nossa Paróquia, com muito bom gosto e empenho, foram organizadas com o desejo de que o Senhor Jesus pudesse chegar ao maior número de pessoas e que ao percorrermos com Jesus os seus passos cada um pudesse fazer a experiência de um encontro mais próximo com Ele e com os outros. No coração tínhamos aquele refrão alentejano: «Além vai Jesus, que lhe queres tu? Quero ir com Ele, que Ele leva a Cruz».


Saindo do Castelo percorremos algumas das ruas principais da nossa Cidade, mas também aquelas por onde passamos menos, aquelas pequenas periferias onde Jesus, através de cada um nós, também quer chegar. Em cada estação, decorada como ‘pequena flor branca que cresce nas asperezas do caminho’, ouvimos ler os trechos do Evangelho correspondente e devidamente encenados. Depois da meditação e do Pai-nosso continuávamos a percorrer com Cristo o caminho até ao Calvário, acompanhado musicalmente pela nossa Fanfarra de Sines, cuja música apelava à meditação e à interiorização. O silêncio era, permita-se-me o paradoxo, ensurdecedor, sinal de oração. 


Estando a cidade de Jerusalém situada sobre um monte, e o Calvário, estando fora da Cidade, em outro monte, era necessário percorrer também esse caminho. Assim fizemos. Descemos até à praia, onde se encontrava uma estação, para depois voltarmos a subir até à igreja paroquial, dedicada ao Santíssimo Salvador. No adro da igreja, decorado com grande beleza, estava situado o Calvário. Aqui Jesus foi deposto das suas vestes, aqui Jesus foi crucificado, aqui morreu e foi colocado no sepulcro, o seio da Igreja, para ressuscitar na manhã de Páscoa. Não foi assim que aconteceu com cada um de nós pelo Baptismo? Não fomos sepultados com Cristo na sua morte para com Ele ressuscitarmos para a vida nova de filhos de Deus e da Igreja? Não é na Igreja, de forma muito concreta na nossa comunidade, que Jesus vive e permanece, de modo especial quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia e comungar o Seu Corpo e Sangue?

À nossa Via-Sacra presidiu o nosso Pároco, o senhor Pe. Pereira, que no final se alegrou por esta iniciativa organizada pelo Grupo de Jovens da Paróquia, que envolveu os diferentes grupos e movimentos da nossa comunidade, tornando-se deste modo uma verdadeira iniciativa de toda a comunidade paroquial. Manifestou o seu agradecimento à Câmara Municipal de Sines que desde a primeira hora manifestou o seu apoio e em tudo colaborou, ao Comando da Guarda Nacional Republicana de Sines pelo acompanhamento irrepreensível da Via-Sacra, à Fanfarra de Sines pelo extraordinário acompanhamento, aos Bombeiros Voluntários de Sines e ainda à Protecção Civil. Uma palavra última de agradecimento foi dirigida a todos os que participaram na Via-Sacra, de modo particular, às muitas famílias que estiveram presentes.

É desta força evangelizadora da piedade popular, na qual a celebração da Via-Sacra se inclui, que nos fala o Papa Francisco quando diz: «Na piedade popular, por ser fruto do Evangelho inculturado, subjaz uma força activamente evangelizadora que não podemos subestimar: seria ignorar a obra do Espírito Santo. Ao contrário, somos chamados a encorajá-la e fortalecê-la […] As expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar, e para quem as sabe ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção particularmente na hora de pensar a nova evangelização» (A Alegria do Evangelho, n. 126). 


Cresceram e darão fruto certamente as pequenas flores de esperança que, na noite do dia 21 de Março de 2015, foram lançadas pelas ruas de Sines, simplesmente porque foi o Amor quem as chamou à Vida e os espinhos não as poderão afogar no coração daqueles que se deixam encontrar, tocar e transformar por Jesus Cristo. 

Luís Marques