A Quaresma em família
1. Importa e é urgente preparar e alcançar que a oração, a catequese e a celebração cristã do domingo que têm lugar no âmbito da comunidade cristã e da paróquia, penetrem a família que deve tornar-se o que é: “a Igreja doméstica”. Na realidade, se assim não for, tudo quanto se fizer ao nível das nossas comunidades será isolado, pontual e desconexo, tanto para os jovens e adultos e, dificilmente, marcará ou animará a vida de cada dia. A família deve tornar-se o espaço da preparação da liturgia da comunidade e o eco da vida espiritual da Igreja. E os pais exercitam o seu ministério próprio educando os filhos para Deus. E isto não é pormenor. Não foi assim a vida espiritual de Jesus? O Filho de Deus viveu a parte maior do seu tempo na terra, em família!
2. Como preparação para a Páscoa temos a Quaresma, um caminho com Jesus. Neste percurso vão todos, os pais e filhos, adultos e jovens, velhos e crianças, Papa, bispos, padres, catequistas, etc... Por isso, no início da Quaresma (1º Domingo) invocamos também os que, trilhando este caminho, o do Evangelho, chegaram à meta: a Virgem Maria e os Santos. Estas invocações poder-se-ão repetir nas nossas casas, de modo a recordar-nos que também nós vamos a caminho e que aqueles que já terminaram, nos podem ajudar com a sua intercessão. Os filhos poderão convidar amigos ou colegas…
3. Para a Quaresma, a Igreja tem um programa próprio e original: “a oração, o jejum e a esmola”.
Pela “oração”, somos convidados a abrir-nos mais a Deus, escutando a Sua Palavra e meditando-a; fazendo a experiência de uma grande intimidade com Deus que é nosso Pai e de quem somos filhos (privilegiando a oração pessoal, a sós, no silêncio do nosso quarto); experimentando que a nossa família é a família de Deus (mediante a oração comunitária, em alguma hora do dia).
Pelo “jejum”, buscamos e recuperamos a liberdade interior que nos torna sensíveise capazes de desejar os bens mais excelentes, os valores espirituais. O “jejum” pode ter várias expressões adequadas: para além de sentir fome (4ª feira de cinzas e sexta-feira santa) ou de moderar o comer às sextas-feiras (abstinência), poderá tomar tantas outras formas que possam permitir mais tempo de encontro e diálogo, na família e com Deus, (menos a televisão e rádio, falar menos para ouvir mais…), ou que favoreçam o exercício do autodomínio e liberdade interior (não fumar, não tomar bebidas alcoólicas, não desperdiçar, não comer uma guloseima…), etc., e, sobretudo, aceitar, de bom grado, os deveres de cada dia, nomeadamente, os familiares. Poderia haver em família uma obra comum que exprimisse este exercício do “jejum”. Sem esquecer o jejum que agra-da a Deus: não pecar!
Pela “esmola” se entende uma atitude de maior serviço e doação aos outros. Repartir os bens (nomeadamente os bens materiais) é uma atitude profundamente cristã. Mas esta atitude engloba, antes de mais, a justiça social (pagar o justo salário a quem trabalha) e a solidariedade (repartir o seu pão com os necessitados) e vai mais longe, levando aos outros uma palavra amiga, promovendo o diálogo e a concórdia, procurando a compreensão, oferecendo o perdão, manifestando uma disposição interior de serviço gratuito e disponível, etc... Também em família poderá haver uma obra comum que exprima uma atenção particular aos outros ou alguma obra de misériacórdia…
4. Em cada casa poder-se-ia assinalar a Quaresma com algum símbolo que lembre a todos o caminho para a Páscoa. Uma cruz especialmente entronizada, com uma luz; ou, então, a Bíblia ou os Evangelhos… num convite à reunião familiar para a oração.
5. Mas há outras iniciativas que poderão ser propostas pelos pais ou pelos filhos: oração antes e depois das refeições; o terço em família (ou só um mistério do terço, para os mais pequenos); a via-sacra (ou apenas uma estação cada dia); o exame de consciência em comum, preparando o sacramento da penitência ou alguma privação comum que reverta para alguma obra boa (social, cultural ou espiritual) ou para necessidade de alguém conhecido.
6. A Páscoa é a grande festa dos cristãos. Preparemo-nos para ela com alegria, oferecendo o melhor de nós mesmos. Ao prepararmos a Páscoa, estamos a preparar a Festa que não terá fim, a Páscoa eterna, com Deus e como todos os Santos.
(Voz Portucalense)