O clero das dioceses do Sul - Évora, Beja e Algarve - esteve reunido, de 23 a 26 deste mês de Janeiro de 2012, no Hotel Vila Galé de S.ta Vitória, junto a Beja, em actualização teológico-pastoral, sob o tema Doutrina Social da Igreja: perspectivas actuais.
A actualização, promovida anualmente e da responsabilidade do Instituto Superior de Teologia de Évora, decorreu com a colaboração de peritos nos diversos temas:
1."Olhares sobre a realidade portuguesa e a responsabilidade social", pelo Prof. Alfredo Bruto da Costa.
2. "Os princípios da Doutrina Social da igreja, na perspectiva da liberdade", pelo Prof. Martín Carbajo Nuñes, de Roma.
3. "Configuração da comunidade internacional (mundial) segundo a Doutrina Social da Igreja", pelo Prof. Marciano Vidal, de Madrid e Roma.
4. " O trabalho humano na lógica cristã do dom", pelo Prof. Martín Carbajo Nuñes, de Roma.
5. "Implicações éticas e jurídicas no âmbito da comunidade mundial. Aplicação à actual crise financeira", pelo Prof. Marciano Vidal, de Madrid e Roma.
6. "Economia e comunicação à luz da Encíclica Caritas in Veritate", pelo Prof. Martín Carbajo Nuñes, de Roma.
7. "Doutrina Social da Igreja na teologia e na vida da Igreja", pelo Prof. Marciano Vidal, de Madrid e Roma.
8. "Razão e Ciências Sociais e Humanas na DSI, por Hermínio Rico, SJ.
9. Painel: "Olhares sobre a DSI e a realidade portuguesa", por João Proença, UGT, e José Roquete, AGEGE.
10. Painel:"A DSI e a sua actualidade e utilidade na acção pastoral da Igreja, por representante da Fundação Eugénio de Almeida (Évora), José Quirino, leigo de Beja, e Domingos Monteiro da Costa, SJ, do Algarve.
No final, foram apresentadas as conclusões, que são inquietações dos participantes e das 3 dioceses.
Conclusões/Inquietações
Os
Sacerdotes das Dioceses de Évora, Beja e Algarve, com os seus Bispos,
reunidos no Hotel Vila Galé, Clube de Campo, em Santa Vitória, nas
Jornadas de Actualização do Clero, promovidas pelo Instituto Superior de
Teologia de Évora, nos dias 23 a 26 de Janeiro de 2012, subordinadas ao
Tema: Doutrina Social da Igreja, perspectivas actuais, partilham as
seguintes inquietações:
1.
Começámos por olhar para a nossa realidade e para os grandes problemas
que Portugal enfrenta: o deficit orçamental público, a dívida externa
pública e privada e o desequilíbrio na balança comercial. As respostas
que estão a ser dadas, e que derivam da conjuntura externa e interna,
têm implicações éticas que colidem muitas vezes com alguns princípios da
Doutrina Social da Igreja (DSI), uma doutrina ausente ou muito diluída
até na nossa própria actividade pastoral. Sentimos, por isso, a
necessidade de recordar e actualizar os seus princípios fundamentais.
2.
A defesa e promoção destes princípios, a saber, dignidade da pessoa
humana, bem comum, solidariedade e subsidiariedade, permitirão à Igreja
cumprir com mais eficácia a sua missão evangelizadora e ao mesmo tempo e
contribuir para ajudar a tornar o nosso mundo uma casa mais habitável.
Nesta perspectiva, a DSI é um serviço da Igreja à humanidade e não um
jogo de poder.
3.
O trabalho, chave essencial da questão social, permite ao homem
expressar a sua dignidade e afirmar a sua identidade, realizando-se como
pessoa. Na visão cristã não pode ser entendido na lógica apenas da
eficácia, mas sim do dom, aberto à transcendência.
4.
A Encíclica Caritas in Veritate afirma a necessidade de voltar a unir
eficácia e solidariedade, bens materiais e relação entre as pessoas,
capital económico e capital social. O grande desafio é integrar
harmoniosamente competência e cooperação num sistema económico que seja,
ao mesmo tempo, justo e eficaz, que favoreça a criatividade, mas não
nos faça esquecer que somos irmãos.
5.
A Igreja não propõe soluções técnicas para os problemas que afectam o
homem e o nosso mundo, Contudo, como é “perita em humanidade” ela pode
ajudar à mundialização da ética e à humanização das nossas sociedades e
estruturas. É neste contexto que se enquadram questões como o bem comum
mundial, a justiça global e a solidariedade. Será desejável, para o
efeito, a existência de uma autoridade mundial com legitimidade para
propor e garantir a aplicação de um direito mundial, ao qual deve estar
subjacente também uma ética mundial.
6.
A Doutrina Social da Igreja, enquanto discurso da fé sobre o social,
deve ser incorporada na Teologia e na vida da Igreja, seguindo uma
epistemologia interdisciplinar e uma metodologia indutiva e dedutiva, na
medida em que o cristão é simultaneamente cidadão das duas cidades, “a
terrena e a celeste”.
7.
Olhando para o mundo e para o país em que vivemos, forçoso é assumir
com realismo a crise nas suas diversas manifestações. A sua superação
exige diálogo, responsabilidade e compromisso de todas as forças vivas
da sociedade.
8. À Igreja é pedido que seja ousada no anúncio da sua mensagem, voz de esperança que vença o pessimismo reinante e entorpecedor, humilde no serviço desinteressado ao homem, sobretudo ao mais pobre e fragilizado.
O Prof. Martín Carbajo Nuñes deu-nos o prazer de vir visitar Sines e presidir à Eucaristia de 26 do corrente.