CRISMAS EM SINES
Há dois anos, iniciámos uma caminhada conjunta, mesmo que em diferentes grupos de catequese, de preparação, partilha, entrega, dádiva e de descoberta deste amor tão grande e maravilhoso de Deus por nós. Temos a presunção de achar que escolhemos esta altura das nossas vidas para realizar esta etapa, quando, na realidade, foi Ele que achou que era chegado o momento. Temos percursos de vida distintos, mas algo que não sabemos bem explicar, nos impelia, semana após semana, para aquela catequese. Após um dia de trabalho, exaustos, conseguimos esquecer cansaços, problemas e atribulações. Tentámos, com todas as nossas fraquezas, dar o máximo para compreender o que os nossos catequistas nos transmitiram para crescermos mais um pouco na fé.
Em todo este percurso, ouvimos falar muitas vezes do Espírito Santo. Na própria Palavra de Deus que escutámos semana após semana, o Espírito Santo aparece-nos de várias formas, como vento, brisa, sopro, fogo, sendo inequivocamente transversal a toda a Sagrada Escritura, e sem que nos apercebamos, essa transversalidade, também ocorre nesta nossa caminhada. Alguns de nós tiveram o privilégio de O conhecer desde tenra idade, outros apenas agora.
Chegámos, agora, ao fim da catequese, mas se com ela esclarecemos dúvidas e encontrámos respostas, também ficámos cheios de uma inquietude que nos faz a cada dia querer conhecer mais este Amor de Deus. Na reta final da nossa preparação, tentámos, com todas as nossas fragilidades, esvaziar-nos de nós mesmos, do que nos enche o ego, para que fossemos arranjando espaço para que o Espírito Santo pudesse atuar em nós.
Como preparação para a celebração da nossa Confirmação, fomos agraciados, na noite de sábado, dia 20 de Junho, com uma vigília de oração e contemplação, cheia de simbolismo e evocação do Espírito Santo, pensada, vivida e partilhada ao pormenor, numa comunhão de verdadeira fraternidade com os jovens da nossa paróquia e todos os paroquianos que desejaram estar presentes. As luzes foram apagadas, ajoelhámo-nos em adoração e representando toda a nossa pequenez diante da verdadeira luz que é Cristo, presente no Santíssimo Sacramento. Vivemos um turbilhão de emoções, uma alegria imensa, cairam-nos lágrimas, fechámos os olhos, de coração a transbordar, sentimo-nos amados. Não somos melhores que ninguém, mas sentimo-nos realmente especiais, vivemos sensações indescritíveis que nunca esqueceremos.
Hoje, dia 21 de Junho, com as emoções à flor da pele, os 25 crismandos que nos encontrávamos na igreja, voltámo-nos a sentir privilegiados. Sentimos uma enorme gratidão por sermos escolhidos para, na Eucaristia das 11h00, recebermos da mãos do senhor Bispo-coadjutor, D. João Marcos, o Espírito Santo no sacramento da Confirmação. Só um Pai dotado de amor infinito nos escolhe com todas as nossas fraquezas para seus filhos.
Na homilia o senhor Bispo referiu que, como os discípulos que foram convidados a passar à outra margem, também a nossa vida é como uma travessia entre margens que devemos percorrer. Estamos nesta margem, e entrámos na barca, a Igreja, como relembrou o senhor D. João, para que, apesar de todas as tempestades, maremotos e correntes contrárias, alcancemos a outra margem, a vida nova em Jesus Cristo. Há dias em que remamos, outros em que nos sentimos sem forças para remar, outros mesmo, em que nos passa pela cabeça atirar os remos ao mar e deixarmo-nos ir ao sabor da corrente, seguindo o canto das sereias do nosso tempo, mas deixemo-nos amarrar ao mastro desta barca, Jesus Cristo.
Hoje, a “bofetada” ritual do senhor D. João Marcos, tornou-se como um convite a que soltássemos as amarras e remássemos com todas as nossas forças para neste mar, que é a nossa vida concreta, irmos testemunnhar e anunciar, pela força do Espírito Santo, o amor de Deus, concretizado em Jesus Cristo, que deu a sua vida por cada um de nós. Que o Espírito Santo que desceu hoje sobre nós não nos deixe saltar da barca. Que este Espírito Santo nos encha de uma inquietude que nos faça querer cada vez mais levar a barca à outra margem, sem que a nossa fé vacile, e faça de nós exemplo para atrair mais “barqueiros” para a travessia.
Não poderia, dando corpo a um sentimento comum a todos os crismados, deixar de agradecer ao senhor Bispo-coadjutor, o senhor D. João Marcos, ao nosso pároco, o senhor padre José Fernandes Pereira, ao senhor padre António Cartageno, que também concelebrou nesta Eucaristia, tocou orgão e regeu o nosso coro. O nosso agradecimento estende-se aos nossos catequistas, aos diáconos e todos aqueles que com a sua oração e a sua amizade nos acompanharam ao longo deste tempo.
De coração agradecido rezamos com Santa Teresa de Jesus: que nada nos perturbe, nada nos espante, porque só Deus basta!
Ana Margarida Godinho